LAGARTIA #4

Capítulo 4:


“Você está me dizendo que a Internet ainda existe??” – Perguntava Aloc, perplexo, enquanto configurava as opções principais da nave.

“SIM, É ISSO QUE EU ESTOU TENTANDO FALAR, MAS NINGUEM PARA PRA OUVIR!” – Gritava o gordo, balançando sua pança enquanto o fazia.

“Mas como isso é possível? Achei que os lagartos haviam destruído ela anos atrás..”

“E eu que sei? Um Artefato da Internet caiu num planeta dominado pelos Lagartos, e eles nem desconfiavam! Talvez existam outros por ai!”

“Ah, não. Nem começa, baleia. Você não vai me arrastar pra uma busca pela galáxia atrás de outros artefatos. A vida não é um roteiro ruim de RPG, ao menos não a minha.”

“Vocês dois deviam passar menos tempo debatendo filosofia e mais tempo tentando dar um jeito de fechar A PORRA DO BURACO NO CASCO, do contrário não temos como sair desse planeta! E VOCÊ, PARE DE ME MORDER” – Disse Humos, enquanto Willys tentava decifrar o gosto da sua perna.

“Certo, certo.. Vamos ver..” – Disse Aloc, que já havia configurado as principais funções da nave para viagens extra-planetárias, mas não fazia idéia de como tampar aquela porcaria de buraco causado pela arma laser.  Já tinha visto filmes o suficiente para saber que, caso tentassem sair do planeta com uma parte desprotegida, todo o ar seria sugado(e eles também) pelo vácuo.

Passou as próximas horas fazendo com que a nave seguisse sem rumo pela superfície do planeta, evitando contato com as forças hostis, e tentando achar alguma solução no banco de dados do computador.

Estava prestes a desistir quando Willys interveio, tocando em seu ombro e dizendo as sábias palavras:

“GOOGLIT”

E então tudo fez sentido na cabeça de Aloc, do gordo e do inimigo imaginário de Willys.

Humos não entendeu, mas fingiu que também havia percebido algo, levando a mão ao queixo e concordando com a cabeça.

“É claro!” – Disse Aloc, enquanto digitava no painel. Não tardou a acessar o que na tela parecia ser um Totem branco com alguns símbolos ancestrais coloridos. Havia um local sem nada, uma caixa retangular cinza que parecia apenas aguardar a pergunta, com uma fina barra piscando dentro, instigando a mente de todos.

Sim, o Oráculo dos Anciões, o Profeta do Passado, o Respondedor do Infinito. Um dos Deuses da Internet, a maior religião que já cobrira a galáxia. Isso fora anos atrás, antes dos Lagartos. Eles tinham medo da Internet, do seu poder, e caçaram cada um dos seus seguidores. Queimaram seus templos, suas escolas, seus cybercafés.

Mas ela ainda existia, unindo os poucos que tinham acesso aquele poder e conhecimento imensuráveis. Nas mãos certas, aquilo poderia significar o fim do império Lagártico.

Nas mãos de Aloc, uma punheta.

”Faça a pergunta.” – Disse o Gordo, observando com extrema curiosidade o telão da nave.

“Será que devo?” – Perguntava Mey, apreensivo. – “Fazem tantos anos.. Eu não sei se.. se ainda sirvo pra isso, se ainda sou ouvido pelos deuses.. Desde que tiraram a Internet de mim.. não sou mais o mesmo.”

“Ah, dá licença que eu faço então!”

“NADA DISSO! Nenhum obeso vai roubar minha glória!”

E então Aloc digitou a pergunta: “Como fexar o buraco no casco da nave”.

E por meros milésimos, algo aconteceu. Uma nova imagem se formou, como se vinda do 
nada, e a linguagem anciã veio até a tela, num azul tão sublinhado quanto divino.

“Você quis dizer: como fechar o buraco no casco da nave ?”

“É ISSO!! O DEUS ESTÁ FALANDO CONOSCO!!!!!! AMÉM!!!” – Gritaram, em conjunto, emocionados.

Aloc respirou fundo e foi de acordo com a sugestão que havia sido lhe dada.

Um buraco redondo se abriu no painel.

Um cabo cinzento saiu dele, serpenteando até a orelha de Aloc. Sua ponta era quadriculada, o que a principio não parecia ser um problema.

A coisa toda mudou de figura quando o tal cabo deixou claro seu objetivo: Entrar no ouvido esquerdo de Aloc.

“AH NÃO!!” – Gritou ele, pulando da cadeira e se afastando. Mas o cabo parecia não ter fim, e foi seguindo-o a medida que ele rodava pela pequena nave. Não tinha aonde se esconder, e tapar o ouvido só garantia machucados na mão, já que a ponta continuava a tentar perfurá-lo.

Willys não pensou duas vezes(aliás, nem sequer pensou, não é de sua natureza) e se jogou em cima de Aloc. O Gordo ia se afastar de todos pra evitar problemas (Era um alvo fácil demais), mas acabou tropeçando nos fios do cabo, que já tomava boa conta da cabine.

Todas as esperanças de Aloc se foram quando a gigantesca sombra da gordura em forma humana cobriu sua vista. Sua vida inteira passou na frente dos seus olhos, e ele chegou a conclusão que havia sido uma merda.

O impacto do corpo volumoso fez o chão tremer, e o próprio Aloc desmaiar. Willys ficava entre os dois, esmagado e tentando decifrar o cheiro das salsichas que via voando por ali. O gordo, tomado pela vergonha, não sabia se iria conseguir se levantar por conta própria.

Foi então que Humos, ao ver a cena, se jogou em cima de todos, não querendo ficar de fora do que imaginou ser algum tipo de brincadeira. Sua ignorância só não era maior que seus antigos mullets.

O cabo entrou em Aloc que, desacordado, não seria capaz de sentir a dor até ser tarde demais.



Um homem com um bigode maior do que seria aceitável para os limites estéticos contemporâneos (que, acredite, são perigosamente baixos) apontava para um quadro com 
uma nave desenhada de maneira infantil.

“HOJE, MEUS CAROS, É O PRIMEIRO DIA DE SUAS VIDAS COMO ESTUDANTES DA ACADEMIA DE AVIAÇÃO ESPACIAL!” – Gritou ele, em seguida olhando para Aloc. – “E VOCÊ, RAPAZ, ONDE ESTÃO SUAS CALÇAS?”

Ele olhou para baixo e percebeu que, de fato ,estava sem calças. Era apenas ele, seu colete de Aviação falsificado e a cueca suja na parte de trás.

“Certo, ISSO é um sonho.” – Disse, acostumado com a situação.

Seu professor então se transformou em um homem de jeans claro, blusa preta, cabelo curto e calvo, com óculos e uma postura de quem está doido pra que te provar o quanto é legal.

“Olá, Aloc! Tudo bem?”

“Quem é você?”

“Sou eu! Steve! Tá de boas?”

“Que merda é essa?”

“Ahaha! É isso ai amigão! É só ficar sossegado que já já a transferência de informação termina, e ai você e eu podemos sair por ai e pegar várias menininhas! Uhul!” – Disse o homem, animado.

“Ok, nem o meu subconsciente seria capaz de criar alguém tão idiota quanto você. Isso tem a ver com aquele cabo, né?”

“Você sacou tudo, que supimpa! Tu é o cara, Aloc! Vamos sair qualquer hora e pegar uma balada? É isso ai! Sou um programa super simpático e divertido, feito pra tornar a transferência de dados o mais agradável possível! Saca, você e eu cara, vamos nos divertir pra caramba!”

“Ah não..”

“Ah sim! Enquanto o terminal de computação passa pra você tudo o que precisa saber sobre “como fechar o buraco no casco da nave?” somos só eu e você, numa festinha particular!”

“Err.. Não tem como você, de alguma maneira, ser desligado?”

”Ahn? Er.. Não, claro que não! Eu sou um programa tão gente fina que os caras boa pinta que me programaram nem sequer pensaram na possibilidade de alguém querer me desligar, portanto nem introduziram essa opção!”

“Provavelmente até eles já estavam de saco cheio de você e resolveram lançar assim mesmo..”

“Haha! Essa foi boa! De qualquer forma, tenho duas noticias, uma boa e uma ruim!”

“Certo, diga logo..”

“Pois é! Bom, qual você quer ouvir primeiro?”

“TANTO FAZ, CARALHO!”

“Ahaha! Eu não sou programado pra escolher por você, desculpe cara!”

“Certo, certo.. A ruim.”

“Bom amigão, a noticia ruim é que a transferência vai acabar em cerca de dois minutos..”

“Ainda bem... E a boa?”

“Haha! A boa é que, como você está inconsciente, a sua percepção do tempo é bem diferente! 
Podemos passar horas e horas nos divertindo juntos! Uhul!!”

Aloc, em desespero, se jogou da janela imaginária mais próxima.


Acordou com uma puta dor de ouvido, mas pelo menos ficou aliviado ao perceber que ao seu redor só estavam os mesmos idiotas de sempre.

Não havia nenhum sinal do cabo, e a tela estava apagada.

O gordo, sempre pronto para abrir a boca, fosse para comer ou para falar, aproximou-se e disse:

“Oh, você ficou uns cinco minutos apagado Aloc! Pelo jeito aquele cabo lhe deu a resposta que você procurava! A informação foi passada direto pro seu cérebro! Como é um terminal antigo, dos tempos ancestrais, tudo é feito na base de cabos e teclados rudimentares. Mas ainda assim, deve ter funcionado! O que precisamos fazer pra sair daqui?”

Por alguns segundos, Aloc esfregou os olhos e pensou. De fato, a resposta estava dentro de si. Ele sabia o que deveriam fazer, e sentia-se como se soubesse aquilo desde o dia em que havia nascido.

“Comer cu de curioso.” – Respondeu.


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